Essa CPI ocorreu em 2003....E você consumidor sabia disso?
CONVÊNIO
A Serasa é suspeita de usar de forma ilegal informações bancárias
que só deveriam ser repassadas aos bancos conveniados. A empresa mantém
em seu banco de dados informações sobre a situação bancária dos
consumidores e as repassa, mediante convênio, pela Federação Brasileira
das Associações de Bancos (Febraban). O acordo proíbe a empresa de
transferir essas informações a terceiros, seja como serviço pago ou
gratuito. A Serasa rebate as acusações e, em nota à imprensa, garantiu
que todas as informações de seu banco de dados são obtidas de fontes
formais e oficiais, e que não tem acesso a informações sigilosas sobre
os consumidores.
DENÚNCIAS
Na semana passada, a CPI recebeu o presidente do Instituto de
Protestos de Títulos do Brasil, Léo Barros Almada, que denunciou à
comissão que informações dos cartórios sobre títulos protestados têm
sido repassadas ilegalmente a terceiros.
O diretor da Associação de Notários e Registradores do Brasil,
Cláudio Marçal Freire, também depôs na comissão na semana passada. Ele
reclamou que a atual legislação concede poderes excessivos às empresas
de proteção ao crédito.
Os cartórios de protesto de títulos do Brasil são obrigados, por
lei, a fornecer às empresas de proteção ao crédito relações diárias de
pessoas que não puderam pagar suas dívidas e tiveram seus títulos
regularmente protestados. A lei proíbe que essas informações sejam
divulgadas a terceiros.
Segundo Léo Almada, esses dados circulam livremente, inclusive pela Serasa.
Para ele, somente as pessoas diretamente interessadas deveriam ser
informadas sobre o débito, e a lei deveria garantir acesso apenas às
pessoas que desejassem conhecer sua situação nos cartórios.
Ele assinala não ser contra a existência de serviços cadastrais de
proteção ao crédito, como a Serasa e os SPCs - serviços de proteção ao
crédito, que são mantidos pelas associações comerciais -, mas considera
que está havendo abuso por parte desses serviços. "Essa é a opinião do
Instituto de Protesto de Títulos no Brasil, do qual eu sou o
presidente".
Ele relatou a história do ex-deputado Márcio Braga, que é notário e
esteve presente na audiência de hoje, que foi surpreendido com seu nome
“negativado” na Serasa. O representante detalhou que o ex-deputado
tentou saber por três dias a razão de seu nome constar do banco de dados
da instituição, sem obter sucesso. Somente após esse período, o
ex-parlamentar conseguiu esclarecer que se tratava de uma conta no valor
aproximado de R$ 100, referentes a serviços prestados pela Telemar. Léo
Almada lembrou que o ex-deputado não havia sido notificado
anteriormente sobre a dívida, o que ele considera ilegal e imoral.
Para Cláudio Marçal Freire, diretor da Associação de Notários e
Registradores do Brasil, a atual legislação concede poderes excessivos
às empresas de proteção ao crédito. Ele considera inadmissível um ente
público, como um cartório, ser obrigado a repassar informações para
empresas privadas, que vão obter lucros com estes dados. Ele defendeu a
manutenção do controle do cadastro de inadimplentes por agentes
públicos. Por isso, ele defende a modificação da lei.
Cláudio Freire argumenta que o cadastro de proteção ao crédito
mantido por entidades privadas é uma usurpação dos direitos do
consumidor. As atividades dessas entidades acabam com a necessidade de
existência dos agentes públicos, como os notários e os registradores,
que receberam delegação do Poder Público para exercer seus serviços. Ele
acredita que as entidades privadas de cadastro de inadimplentes não são
imparciais, pois estão a serviço de bancos e associações comerciais.
O diretor enfatizou que os delegatários (notários e registradores)
agem com imparcialidade: o cartório verifica se houve a prestação do
serviço, se o contrato firmado entre as partes está dentro da lei e se
não houve realmente pagamento pelo serviço ou mercadoria. "Enquanto o
cartório está fazendo isso, não há divulgação dos dados do devedor".
Cláudio Freire disse ainda que, se quiserem centralizar as informações
sobre os devedores, devem fazê-lo com as informações dos agentes
públicos e não com informações de entidades privadas.
Ele também defende que os Procons (órgãos de defesa do consumidor)
sejam gerenciados por funcionários de carreira concursados, como são
hoje os notários e os registradores. "Atualmente, a indicação para a
diretoria do Procon é uma indicação política, e isso compromete a
imparcialidade do órgão", analisa.
O autor do requerimento da audiência, deputado Alex Canziani
(PTB-PR), considera que há necessidade de se rever a legislação
referente aos cartórios de protestos, mas lembra que é preciso criar
leis para prever sanções aos abusos cometidos pelas empresas de proteção
ao crédito. O parlamentar defende mudanças que regulamentem os
cadastros e estabeleçam sanções e multas para o uso ilegal das
informações. “Tem que ter uma sanção para que acabe esse abuso contra o
consumidor brasileiro".
O relator da comissão, Gilberto Kassab (PFL-SP), enfatizou que as
decisões adotadas pela CPI vão ser aplicadas a todas as entidades que
mantêm dados cadastrais de consumidores e não apenas à SERASA.
O presidente da comissão, deputado Giacobo (PL-PR), diz que o
depoimento dos representantes de cartórios serviu para demonstrar que,
para negativar o nome de qualquer consumidor, é preciso haver
procedimentos claros e legais, como os que são realizados pelos
cartórios.
Na próxima terça-feira, dia 26, a comissão recebe o ex-presidente do
Banco central, Armínio Fraga, para explicar o convênio com a SERASA.
Everardo Maciel diz que não sabia o que era a Serasa
O ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel esteve nesta
terça-feira (19/8) na CPI da SERASA para esclarecer aos deputados
detalhes do convênio firmado entre aquele órgão e a Federação Brasileira
de Bancos (Febraban). Pelo convênio, encerrado em outubro do ano
passado, os dados cadastrais de mais de 60 milhões de portadores de CPF
eram repassados à SERASA, empresa que administra bancos de dados de
consumidores repassados aos comerciantes.
Everardo disse na audiência que, até ser convocado pela CPI, não
sabia o que era a SERASA - não tendo, portanto, assinado o acordo.
O deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP) argumentou que o
desconhecimento não justifica o fato de a Receita não ter acompanhado a
realização e o cumprimento do contrato. Os deputados se disseram
perplexos com a omissão da Receita. Semeghini ainda se disse preocupado
com o fato de os técnicos não terem avaliado a segurança do sistema da
SERASA onde ficavam armazenados os dados dos contribuintes.
Everardo Maciel afirmou que não foi alertado pelos técnicos sobre o
valor monetário do banco de dados, transferido a preço de custo à
SERASA. O ex-secretário também afirmou desconhecer a venda dos dados
cadastrais, feita pela SERASA, o que era proibido pelo convênio.
Everardo Maciel também não estranhou que a Receita não tivesse
acompanhado o devido cumprimento do acordo, e disse que os técnicos
responsáveis só deveriam fiscalizá-lo caso houvesse algum indício de
irregularidade. "Depende de ter um elemento concreto que revelasse a
necessidade de fiscalização. Os convênios são celebrados de boa-fé e se
presume inocência em todos os casos", salientou.
Mesmo desconhecendo seu teor completo, o ex-secretário da Receita
Federal qualificou como bom o contrato firmado com a Febraban. Para ele,
a informação obtida da Receita pode ter sido o diferencial para que a
SERASA crescesse tanto nos últimos anos.
Everardo Maciel revelou aos deputados que apenas informações
cadastrais básicas eram repassadas à Febraban, a fim de auxiliar o
controle de abertura de contas. Esses dados estão disponíveis pela
Internet no site da Receita, o que não era possível à época da
assinatura do acordo, em 1998.
A explicação de Everardo Maciel também não deixou satisfeita a
deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC). "Quando o secretário, que assumiu a
Receita Federal por oito anos, repassou informações que só a Receita
tinha condições legais de pegar de um cidadão, tratou informações
sigilosas do cidadão de forma muito simplista", ponderou.
O ex-secretário pediu uma investigação sobre a veiculação de
informações pessoais que foram repassadas à Imprensa, que relatava que
os dados haviam sido obtidos junto à SERASA.
Analisando os dados divulgados, ele concluiu que as informações são
anteriores a 1997, período anterior ao convênio entre a Febraban e a
Receita, em que não havia normas de segurança. (Fonmte: Agência Câmara -
Reportagem – Adriana Magalhães - Edição - Patricia Roedel)
Para jornalista da TV Bandeirantes, Serasa é vulnerável
O jornalista Sandro Barboza, da TV Bandeirantes, confirmou, em
audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da SERASA,
suas denúncias a respeito da vulnerabilidade do sistema de informações
daquela empresa.
Segundo o jornalista, qualquer empresa pode, mediante contrato com a
SERASA, incluir pessoas físicas e jurídicas na lista de inadimplentes,
trazendo prejuízos a pessoas e empresas que perdem crédito,
oportunidades de emprego e negócios; são alijadas de concorrências e
impedidas de contratação por órgãos da administração pública. A
vulnerabilidade da SERASA, diz Barboza, permite a invasão de
privacidade.
A CPI assistiu o vídeo com as reportagens feitas no ano 2000 por
Sandro Barboza. Diz o jornalista que os dados da SERASA podem ser
alterados fácil e indevidamente. Todas as pessoas com CPF estão no banco
de dados da entidade, e as informações disponíveis incluem a
movimentação bancária. O vídeo contém depoimento do advogado Edílson
Galdino, que afirma ter alterado pessoalmente os dados do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso e do então líder do PT na Câmara, deputado
Aloizio Mercadante (SP), com a intenção de demonstrar a fragilidade do
sistema.
Galdino e Barboza estão sendo processados pela SERASA. Barboza diz
que o Ministério Público estadual já se pronunciou por sua absolvição.
"Em nenhum momento tive a intenção de prejudicar a imagem da empresa. A
matéria foi divulgada por ser de interesse público", afirma o advogado.
O relator da CPI, deputado Gilberto Kassab (PFL-SP), mostrou
preocupação com a vulnerabilidade do sistema. "Temos que estudar novas
tecnologias diante da vulnerabilidade demonstrada", disse Kassab,
propondo como pontos chave para a continuidade das investigações a
análise da vulnerabilidade desse sistema de informação e comunicação; os
direitos do consumidor e o papel da SERASA; o controle sobre quem e
como se pode incluir e excluir nomes do sistema; os direitos de
cidadania ao sigilo; e o modo de acesso aos cadastros do Banco Central e
da Receita Federal.
O deputado Almir Moura (PL-RJ) afirmou ter certeza de que todos os
deputados e autoridades do País já foram devassados pelo SERASA. Moura
anunciou que pretende publicar as denúncias que tem recebido sobre a
entidade, e disse que o sistema deve ser profundamente investigado.
O presidente da CPI, deputado Giacobo (PL-PR), ressalta que o
objetivo não é atacar a SERASA, mas verificar a legalidade da sua
atuação e analisar o grande número de denúncias de negativações
indevidas, que ferem os direitos de cidadãos e empresas. "Ao final,
vamos avaliar a necessidade ou não de uma nova regulamentação legal
sobre o controle e uso de bancos de dados, e encaminhar denúncias de
irregularidades ao Ministério Público", informou Giacobo. (Fonte:
Agência Câmara, Adriana Magalhães (Rádio Câmara) e Daniel Cruz/ LCP)
RELATÓRIO FINAL
11/11/2003 18:20
CPI da Serasa aprova relatório final
A CPI da Serasa aprovou nesta terça-feira, por
12 votos a favor, 11 contra e uma abstenção, o relatório do deputado
Gilberto Kassab (PFL-SP). A votação foi desempatada pelo próprio
relator. No relatório, Kassab não aponta qualquer ilegalidade nas ações
da Serasa. O que existe, em sua avaliação, é um conjunto de falhas, não
originadas em má-fé da empresa, que acaba prejudicando o cidadão.
O
relator acolheu algumas sugestões apresentadas pelos parlamentares, como
a obrigatoriedade de notificar — mediante carta registrada com
comprovante de recebimento — as pessoas incluídas nas listas de
devedores. A notificação também poderá ser feita por e-mail com
certificação digital.
Outra
sugestão acolhida foi a de que só ocorrerá a negativação dos devedores
que são parte em processos judiciais quando a sentença for julgada.
Kassab
aceitou ainda a definição de que caberá à Secretaria de Direitos
Econômicos do Ministério da Justiça fiscalizar os serviços de bancos de
dados.
Alguns deputados criticaram o documento pelo fato de suas
propostas não haverem sido aceitas. Sub-relatora da CPI, a deputada
Perpétua Almeida (PCdoB-AC), por exemplo, criticou o fato de o relatório
não apresentar um projeto de lei que regulamente as atividades das
empresas de análise de crédito. Kassab contra-argumentou afirmando que
esse assunto não era unanimidade na CPI e que os deputados poderiam
apresentar a proposta individualmente. Já o deputado Almir Moura (PL-RJ)
criticou o relatório por não ter apresentado a Serasa como
co-responsável pelos erros existentes nas listagens de devedores.
O
relatório da Comissão será encaminhado à Mesa da Câmara, que poderá
distribuí-lo a diversos órgãos, como a Advocacia-Geral da União e o
Ministério Público. A Mesa também poderá apresentar um projeto de lei
sobre o assunto, que deverá ser votado pelo Plenário no prazo de cinco
sessões.
Reportagem – Liz Elaine Lôbo
Edição – Patricia Roedel
FONTE: http://www2.camara.leg.br/agencia/noticias/41703.html